Snowdrop: Entenda por que novo dorama do Star+ é tão polêmico

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Snowdrop: Entenda por que novo dorama do Star+ é tão polêmico

Por Junno Sena

Entre adiamentos devido a pandemia e a expectativa dos fãs sobre como o dorama chegaria ao Brasil, Snowdrop está cercado de polêmicas e uma mais complicada que a outra. Protagonizado pela integrante do grupo de kpop Blackpink, Jisoo, e Jung Hae de D.P Dog Day, o dorama histórico se passa em um momento crítico da história sul-coreana: durante os protestos dos anos 80 por democracia. Entre espionagem e regime ditatorial, a produção foi alvo de polêmica ao escorregar em alguns fatos históricos. 

“Diretas já!”

E isso não é bem uma novidade para o Brasil. Entre novelas que amenizam a escravidão até pessoas pedindo por uma nova ditadura, enfrentar e compreender o passado tem sido difícil em terras tupiniquins. No caso da Coréia do Sul, o ano em que se passa o dorama foi o ápice dos protestos contra o governo que ganhou poder por meio de um golpe de Estado. Em janeiro de 1987, o Massacre de Gwangju marcou o país quando um estudante protestante morreu sob interrogatório policial.

Pôster de Snowdrop

O ocorrido levou mais de um milhão de estudantes e cidadãos às ruas em protestos antigovernamentais, conhecido como o Movimento de Democracia de Junho. No fim de 1987, a Constituição foi revista e aprovada, colocando um fim à Quinta República e dando início a uma nova eleição direta.

Por que Snowdrop está envolvido com polêmicas?

Assim, o problema de Snowdrop começou com os livros de história. De acordo com o público, a produção reescreveu diversos fatos ao redor da Coréia do Norte e seu envolvimento com o Movimento de Democracia. Para o The Korea Herald, a atitude foi alarmante, uma vez que diversos estudantes e professores foram torturados e mortos sob a justificativa de serem espiões norte-coreanos.

A principal incongruência foi colocar o protagonista, um espião, se escondendo com a ajuda de uma estudante, personagem de Jisoo. As críticas apontavam que pessoas com pouca familiaridade com o assunto poderiam passar a acreditar que ativistas sul-coreanos eram, na verdade, norte-coreanos disfarçados. O grande problema é que esta narrativa incorreta era utilizada por conservadores na época. 

Se o assunto já não parecia delicado, o nome da protagonista foi inspirado em uma mulher real que teve seu marido espancado durante os protestos, indo de “Yeong-cho” para “Yeong-ro”. Entre outras críticas, havia ainda o fato de o dorma “juntar um momento sombrio do país com romance”, sendo visto por alguns como uma ofensa e assédio contra as vítimas.

Jisoo em Snowdrop.

E falando sobre vítimas do ocorrido, um representante do memorial de Lee Han-yeol, estudante assassinado durante os protestos, chamou Snowdrop de ofensivo. De acordo com ele, os criadores deveriam tomar responsabilidade por desenvolver uma série sem consciência histórica e social (via Bustle).

Entre realidade e ficção

Toda essa controvérsia fez com que o público pedisse pelo cancelamento do dorama, além da JTBC, emissora responsável, modificar o cronograma de lançamento, lançando três, ao invés de dois, episódios por semana. De acordo com parte da produção, essas incongruências históricas seriam cessadas após um maior desenvolvimento da trama. Mesmo com petições que arrecadaram mais de 230 mil assinaturas em 24 horas, a emissora se manteve firme na decisão de continuar transmitindo o dorama

Imagem real do Massacre de Gwangju.

“O drama foi um enredo que Yoo Hyun Mi criou há muito tempo. Ela disse que foi inspirada por um desertor norte-coreano que escapou de um campo de concentração em 2008”, explicou Jo Hyun-tak da produção durante uma conferência de imprensa. “A história inclui a experiência dela nos dormitórios femininos da universidade durante os anos 80. Foi a partir dessas ligações que o enredo de Snowdrop foi criado”

Escrito por Yoo Hyun Mi, Snowdrop não foi a primeira série coreana a receber pressão popular devido a incongruências históricas. Joseon Exorcist, da SBS, foi cancelado após a exibição de dois episódios em 2021. Essa preocupação em se manter fiel aos fatos está cercada por um momento político delicado, uma vez que essas produções acabam tocando no assunto “Coréia do Norte”. E, assuntos mal explicados ou errados podem acabar se tornando um problema no futuro.

Jisoo e Jung Hae em Snowdrop.

“Liberdade de expressão é uma das fundações da nossa sociedade democrática. Por que algumas pessoas acham que elas têm o direito de violar o direito de outros espectadores?”, questionou o crítico e professor, Chin Jun-kwon, em um post (via The Korea Herald).

Porém, mesmo com as críticas internas e a audiência não indo tão bem, Snowdrop conseguiu conquistar os fãs de Jisoo e Jung Hae. Devido à química dos atores, somado a uma história complexa e produção bem feita, o dorama foi finalizado na Coréia com o público querendo mais. Por outro lado, é importante notar que essa fama não é necessariamente interna. Por causa da distribuição da Disney+, Snowdrop acabou ganhando mais espaço e mídia ao redor do mundo. 

Ficando em segundo lugar no serviço de streaming no Japão, Singapura, Taiwan e Hong Kong em seu lançamento, a aquisição do Disney+ foi um sucesso. Olhando para Snowdrop como um erro histórico ou apenas como um dorama, é importante notar essas incongruências e, até mesmo, aprender com elas. Sendo um momento tão delicado das duas Coréias, Snowdrop pode ser uma “história hipotética”, como explicou a JTBC, mas ainda sim é um conto para se olhar com seriedade.

Snowdrop está disponível agora na Star+.

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